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Quanta textura!

  • psihelenabreu
  • 31 de dez. de 2024
  • 3 min de leitura

Atualizado: 2 de jan.

Fui cortar o cabelo


Pra algumas pessoas, cortar o cabelo nunca é simplesmente sobre aparar pontas.


Enquanto minhas pontas eram aparadas e meu cabelo tocado, ouvi um “quanta textura!”


E sim, meu cabelo tem muita textura; é uma mistura. Eu sou uma grande mistureba.


E é interessante pensar que não só ele. É curioso isso de me haver justamente com tanta coisa que é isso que me compõe.


Dna misturado. 


Mãe. Pai.


Ainda assim, nenhum dos dois; sou criatura inteira e autônoma.


Não estou nem lá nem cá.


Nunca fui 8 ou 80. E apesar de tender a habitar extremos, desejo amiúde perseguir o oposto da polaridade.


Com minhas porosidades e todo o resto, habito o entre; estou entre tantas coisas: espectro.


Meu primeiro grande choque, eu me lembro! Quando descobri que não gostava “só” de meninos. Como assim é possível não gostar de uma coisa só? Como muitos, cheguei a acreditar que algo estava apenas indefinido, ainda. 


Falando de estar entre uma coisa e outra, já me estive completamente enojada por ter tal verdade esfregada na cara. 


Ao ler um livro de uma psicanalista, ela bem sinalizou: o que tem entre o nascimento e a morte é a vida. Ali encontrei certo conforto e pensei: se é no entre que se pode viver, me resta abraçar isso que sou e porque não a vida também?


-


É estranho. Não deixa de ser… Sabe? Numa coragem súbita eu disse: corta dois dedos acima do que já vai ser cortado, “dois dedos?” eu confirmo.


O cabelo é finalizado e simplesmente odeio o que escolhi. Porque quis cortar além do necessário? 


Nunca tive cabelo tão curto assim antes. Sequer me reconheço.


Sequer me reconheço nessa coragem toda.


Sequer me reconheço nessa mistura toda. 


Quanta textura!


É que meu cabelo já me foi motivo de vergonha. É de se saber o que todo, ou praticamente todo cabelo não liso já foi chamado: “bombril”.  Hoje, o que faço é até gostar dele, mas quando ele não ocupa tanto espaço assim. O que a cabeleireira ousada fez foi nada mais nada menos que deixar meu cabelo todo expansivo. Essa atrevida fez com que meu cabelo ocupasse tudo que ele tem potencial - potencial não, o que ele já é, mas por falta de coragem, não ocupa.


A atrevida viu todas as minhas texturas de perto e, não só gostou como botou pra jogo.


Não aceitou que fosse menos que é.


É difícil mesmo reconhecer aquilo que não foi legitimado de alguma forma. Isso é sobre cabelo como também não é.


Tem um trabalhão a ser feito, mas nunca fui preguiçosa.


Hoje é dia de réveillon. Talvez seja um bom momento pra brincar com esse cabelo e comigo mesma. Brincar novas versões. Brincar de viver de forma diferente. 


Essa coragem súbita é minha. Não deixa de ser só porque me estranha de alguma maneira. 


Me parece que isso que vem de dentro dizendo “corta dois dedos”... espera, não começou ali. Foi antes.


Anterior a esse momento, tem eu, pedindo horário pra cabeleireira faltando uma semana pro ano novo. Os salões ficam lotados nesse período. Mesmo assim, pedi qualquer horário, desde que eu pudesse cortar meu cabelo.


Era cabelo mesmo que precisava ser cortado? Certamente o cabelo simboliza outras coisas dado o momento do ano. Culturalmente falando ano novo é tempo de reflexões e não está sendo diferente pra mim. 


E aí sim, vou com uma ideia, combinados o corte. Mas esse “corta mais dois dedos” vem. 


E isso sim, me parece com uma necessidade de cortar um pouco mais por já saber que se precisa de uma novidade. 


Eis que alguma elaboração é possível: hoje vou brincar e brindar a novidade.


 
 
 

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